
Por
Jean Kleber Mattos
Publicado no Blog Ipueiras em 04/04/2006 por Marcondes Rosa de Sousa
No início da década de 50, os rádios “Telefunken”, a válvula, estavam em fase de lançamento. O reinado dos “Phillips” parecia ameaçado. A vedete era o modelo “Largo”.
Um vendedor estava em Ipueiras para fazer demonstrações. Como a energia elétrica do gerador da cidade somente à noite era ligada, ele portava uma bateria para os testes. Chegando à nossa casa, preparou-se para instalar o aparelho.
Em nossa casa, a sala de visitas e a sala de jantar eram a mesma. A porta dava direto para a rua e estava aberta. Aguardávamos a demonstração quando surgiu na moldura da porta a figura do Coça-coça, o mendigo-doido mais conhecido da cidade. Aliás, muito bem descrito no “blog” de Ipueiras por Darci Weihs.
Organizado, portava suas três sacolas de coleta, de tecido de algodão: a da farinha, a do arroz e a do feijão. Pareceu interessar-se pelo aparelho.
-Isso é um rádio?
-Sim. Respondeu o vendedor.
-Ele fala?
-Sim.
-Eu posso falar?
O vendedor parecia já saber de quem se tratava.
-Sim. Fale aqui!
E apresentou-lhe o terminal de pinos do cabo do aparelho como se fosse um microfone. O homem levou o terminal à altura da boca e transformou-se. Empertigou-se, inchou a veia do pescoço e, com o olhar rútilo, vociferou:
-Aqui fala....Vicente Araújo de Quintas!..Prefeito do Curupati!...General de “Lemanha”!.... E por aí foi.
Os circunstantes riram do delírio. Estávamos diante de uma incompatibilidade de cargos e patentes. Improvável que alguém, prefeito do Curupati, fosse um general da Alemanha. De alemão ali só tinha o rádio.
De tudo, restou-me uma pergunta: afinal quem era Vicente Araújo de Quintas? Eu tinha seis ou sete anos na ocasião e acreditei ser aquele o nome verdadeiro do Coça-coça.
Nunca tratei deste assunto com alguém. A dúvida permanece até hoje.
No início da década de 50, os rádios “Telefunken”, a válvula, estavam em fase de lançamento. O reinado dos “Phillips” parecia ameaçado. A vedete era o modelo “Largo”.
Um vendedor estava em Ipueiras para fazer demonstrações. Como a energia elétrica do gerador da cidade somente à noite era ligada, ele portava uma bateria para os testes. Chegando à nossa casa, preparou-se para instalar o aparelho.
Em nossa casa, a sala de visitas e a sala de jantar eram a mesma. A porta dava direto para a rua e estava aberta. Aguardávamos a demonstração quando surgiu na moldura da porta a figura do Coça-coça, o mendigo-doido mais conhecido da cidade. Aliás, muito bem descrito no “blog” de Ipueiras por Darci Weihs.
Organizado, portava suas três sacolas de coleta, de tecido de algodão: a da farinha, a do arroz e a do feijão. Pareceu interessar-se pelo aparelho.
-Isso é um rádio?
-Sim. Respondeu o vendedor.
-Ele fala?
-Sim.
-Eu posso falar?
O vendedor parecia já saber de quem se tratava.
-Sim. Fale aqui!
E apresentou-lhe o terminal de pinos do cabo do aparelho como se fosse um microfone. O homem levou o terminal à altura da boca e transformou-se. Empertigou-se, inchou a veia do pescoço e, com o olhar rútilo, vociferou:
-Aqui fala....Vicente Araújo de Quintas!..Prefeito do Curupati!...General de “Lemanha”!.... E por aí foi.
Os circunstantes riram do delírio. Estávamos diante de uma incompatibilidade de cargos e patentes. Improvável que alguém, prefeito do Curupati, fosse um general da Alemanha. De alemão ali só tinha o rádio.
De tudo, restou-me uma pergunta: afinal quem era Vicente Araújo de Quintas? Eu tinha seis ou sete anos na ocasião e acreditei ser aquele o nome verdadeiro do Coça-coça.
Nunca tratei deste assunto com alguém. A dúvida permanece até hoje.
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