domingo, 2 de setembro de 2018

D. MUNDITA, UMA SAUDADE

ESTA CRÔNICA, DE JEAN KLEBER MATTOS,  FOI PUBLICADA ANTERIORMENTE NO BLOG "IPUEIRAS-GRUPOS" EM 05.11.2006, SOB COORDENAÇÃO DO PROFESSOR MARCONDES ROSA 



14:05 @ 05/11/2006

Exatamente dois anos passados, no dia 4 de novembro de 2004, faleceu em Fortaleza, com 82 anos, minha mãe, D. Mundita. Ela foi professora primária em Ipueiras, dos meados dos anos 40 ao início dos anos 50. Permitam-me hoje, em nossa “pracinha” virtual, prestar-lhe esta singela homenagem.

Dia 11 próximo, seu Neném Matos, meu pai, fará 94 anos. Naquele dia, vou pedir licença de novo para escrever algo sobre ele.


O nome de solteira era Raimunda Baima de Abreu. O apelido, adotado por ela mesma, foi Mundita. Deveria ser “Mundica”, de Raimunda, mas esta forma não foi adotada. Nasceu no Ceará, em Aquiraz, a oitenta e quatro anos passados, filha de Gesuíno Ancelmo de Abreu e Francisca Conceição Baima de Abreu. Órfã de mãe logo no início da primeira infância, foi adotada pela professora Luiza Mendes dos Santos, a D. Luizinha, que residia no município cearense de Redenção. Aos quinze anos de idade, conheceu, em Fortaleza, o ipueirense Sebastião Mattos Sobrinho, o Neném Matos, com quem se casou aos dezenove anos, em 1943, adotando a partir de então o nome Raimunda de Abreu Mattos.
A viagem de núpcias foi a Ipueiras. Três anos depois, transferiu-se com o marido para a mesma Ipueiras, levando o filho Kleber, este com apenas dois anos de idade. Junto, levou também a mãe, D. Luizinha e a criada, Maria José. Na cidade, lecionou no Grupo Escolar e no Educandário Nossa Senhora da Conceição, entidade particular da qual era sócia, juntamente com o marido e a mãe, que também lecionavam na escola. Ainda na minha primeira infância, eu a acompanhava sempre que ela ia receber o salário na Coletoria do Estado. Seu Juarez Catunda, o coletor, era quem fazia o pagamento.

Vários ipueirenses ilustres foram seus alunos no “curso primário”, tanto no Grupo como no Educandário. Tinha especial amizade por quatro ilustres professoras da cidade: D. Isa Catunda, D. Augusta, D. Estudilha e D. Diana. Musicista, compartilhou com D. Diana durante algum tempo, o “fazer a música” da igreja, com o Padre Correia. Deixou Ipueiras em janeiro de 1953, indo morar em Fortaleza e depois em Brasília.

Ainda em Ipueiras, acolheu como internos no Educandário, o Zaca, de “seu” Gustavo e o Assis, de “seu” José Fernandes. O primeiro ingressou depois na Marinha do Brasil e o segundo na Ordem dos Padres Paulinos. Em Fortaleza, acolheu em casa e instruiu, três sobrinhas: Gonçala Salete, ipueirense, hoje conceituada professora aposentada do Estado, Maria Amélia, hoje mãe de jurista famoso e Fátima Abreu, hoje prestigiada empresária. A sobrinha Gonçala Salete mora, nos dias atuais, com “seu” Neném Matos, a quem trata com desvelo.

A preocupação concreta com a justiça social marcava sua conduta. Lembro-me de um episódio, quando visitávamos uma importante indústria de Fortaleza e elogiávamos a beleza das instalações e o impecável uniforme das recepcionistas, ela, que já havia conversado discretamente com as moças, saiu-se com esta: “Vocês sabiam que essas moças ficam seis horas em pé, por dia? E o salário não é grande coisa...”

D. Mundita faleceu em Fortaleza em 4 de novembro de 2004, vitimada pelo Mal de Parkinson. Foi sepultada em Aquiraz, sua cidade-natal, no jazigo da família Abreu. Deixou emocionados dezenas de amigos e familiares a quem sempre acolheu, o marido, o filho, as duas netas, o neto e a bisneta, que, passados dois anos, seguem na vida aprendendo a conviver com a sua perda.

(Na foto,  D. Mundita, ainda bem jovem, ao lado da mãe, D. Luizinha).

Comentários

Por Solange às 16:01 @ 06/11/2006
Gostei de saber algo mais da vida de D. Mundita a quem tenho gratas recordações do meu tempo de colegial. Para mim ela sempre me passou uma imagem de, embora pequena em estatura, era uma mulher forte, determinada e sincera. Sua imagem também está associada ao esposo - companheiro também de ideal. Parabéns Kleber pelo resgate de tão importante memória.
Por Dalinha às 23:00 @ 06/11/2006
Jean Kleber, É bom saber sobre sua história, de seu carinho com a família, é gratificante saber que você é um bom fruto de árvores super especiais.
Por Darci Weihs às 19:34 @ 12/11/2006
Dona Mundita, minha vizinha, mãe do Kleber, esposa do professor Neném Matos e filha da Dona Luisinha.Minhas recordações dela são mais como vizinha: 'entra Kleber!!!' Não lembro dela no Educandário.Mas reviver tudo isso é algo indescritível.Kleber, lembro sim da sua mamãe, bjs, Darci ( do seu Camaral e vizinha sua)
Por FRANCISCO DE ASSIS MATOS às 09:43 @ 30/11/2006
KLEBER MATOS, ENTRE EM CONTATO CONOSCO QUANDO PUDER. SEUS PRIMOS FRANCISCO E SOCORRO MATOS. evandromatosadv@yahoo.com.br.  Saudações, Francisco