A VIAGEM DE NOSSAS VIDAS (I)
Jean Kleber Mattos
Este é o relato de uma experiência de
reencontro com Ipueiras e ipueirenses, parentes e amigos de minha infância, no
período de 14 a 23 de janeiro de 2007, partindo de Brasília. Dividi-o em três
capítulos para não me tornar fastidioso. Este é o primeiro deles.
Na véspera da viagem, ainda em
Brasília, minha mulher Heloísa parecia tensa com a perspectiva do inusitado.
“Fique tranqüila – falei – esta será a viagem de nossas vidas. Algo para ser
sempre relembrado com alegria e saudade.” E de fato foi, conforme o relato a
seguir.
Logo no dia da chegada em Fortaleza,
domingo, o reencontro com Marcondes e Solange, os filhos de seu Wencery. Eles
foram à casa de meu pai onde estávamos hospedados. Reencontraram o mestre do
tempo de infância e conferiram a relíquia do Educandário, ou seja, os diários
de classe, com seus nomes. A seguir levaram-nos ao “Café do Sertão”, no Euzébio, onde
compartilhamos tapiocas e cajuína. Não os via há décadas. Custava-me crer que
aquilo tudo estava acontecendo. Dois ídolos meus da “Internet”. Ali, ao vivo e
a cores, como diz Tereza Mourão. Papo universitário por excelência.
Na quarta feira, minha mulher e minha filha
Vanessa faziam às compras à noite, na feira da Volta da Jurema, quando Ivan,
meu filho mais novo, com sono, pediu para sentar num banco de praça. Ao nosso
lado, no mesmo banco, uma simpática senhora nos perguntou de onde éramos. “De
Brasília, mas sou cearense”, falei. “Eu também vim de Brasília”, retrucou ela,
“mas nasci em Ipueiras. Sou da família Fontenele. Meu nome é Sandra.” Fiquei
admirado: “conheço o Tadeu Fontenele do grupo da “Internet”, falei”. “Ela
sorriu e disse: ele está vindo me apanhar...lá está ele !”. Atravessei a rua
junto com ela e conheci pessoalmente o Tadeu que estava no carro, ao lado da
irmã Maria Inês, que eu já conhecia de Brasília. Encontro inesperado. “Não
existe acaso, Jean Kleber”, sentenciou mais tarde o Tadeu, quando nos falamos
ao telefone: “a gente tinha que se encontrar”.
Na quinta feira pela manhã, fomos em
família com seu Mattos a Aquiraz homenagear a minha mãe, D. Mundita, em seu
jazigo naquela cidade. O reencontro com os primos da cidade. Acolhida
carinhosa. Refresco de graviola. Flores, lágrimas e orações. À tarde, Solange
levou-nos exemplares do livro “Educação: Insistências e Mutações”, de autoria
do Marcondes: uma para meu pai, outro para mim (autografados) e mais alguns
para o Instituto Frota Neto em Ipueiras. Eu seria o portador.
À noite foi o jantar no apartamento do
Carlito Matos, meu primo, na companhia de Costa Matos, a esposa Aldery e mais
os netos e a nora. Reviramos saudades, como diria Walmir Rosa. Vimos um “show”
exclusivo e doméstico do Carlito, grande compositor e intérprete, misto de
engenheiro de pesca, compositor, músico e humorista. Impagável! Bebemos à
sabedoria de Costa Matos, que presenteou-me com quatro obras literárias
premiadas de sua autoria: “Na Trilha dos Matuiús”, “Estações de Sonetos”, “O
Rio Subterrâneo”, “O Povoamento da Solidão”, alem de seu Discurso de Posse como
membro da Academia Cearense de Letras. Do Carlito, ganhei CDs e DVDs contendo
suas composições e reportagens. Revi a simpatia de Aldery. Costa Matos é meu
padrinho de crisma.
Na sexta pela manhã entramos de mala e
cuia na “Van” do primo Valdery, contratado para nos levar à Ipueiras. Tomamos o
caminho de Canindé. Mais curto e menos trafegado.
Começava ali o segundo capítulo da
grande viagem, rumo aos reencontros emocionados, aos abraços, aos doces,
feiras, festas e forrós...
Agüenta coração!
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