domingo, 16 de maio de 2010

ECOS DO PASSADO


Na foto, da esq. para a dir. Sebastião Mattos sobrinho, Jean Kleber Mattos e Tereza Mourão.

Por
Jean Kleber Mattos
Publicado no Blog Ipueiras em 28/03/2006 por Marcondes Rosa de Sousa

Defender-se com unhas e dentes tem para nós, civilizados, um sentido figurado. Na primeira infância, logo em seu início, não.
É real. Algumas crianças defendem-se mordendo. Na pré-adolescência eu ouvia, em desespero posto que envergonhado, as narrativas de minha avó, D. Luizinha, sobre minhas reinações da primeira infância, lá pelos dois anos de idade.
Eu mordera duas crianças que brincavam comigo. Meu desespero e vergonha aumentavam quando a narrativa, reforçada solidariamente por minha mãe quando presente, descia a detalhes tais como: “a marca dos dentes ficou na pele”.
Minha avó declinava o nome das vítimas: Edivá e Darcí. Edivá, nas costas. Darci, no braço.
Anos mais tarde, já universitário, descobri que Darci era minha contemporânea de escola de agronomia mesmo não pertencendo à mesma turma. Moça bem educada e de voz doce sempre que conversávamos era inevitável de minha parte um certo desconforto pelo receio de que, guardada na memória de minha adorada colega, restasse algo daquela cena violenta.
Em recente reunião em sua casa em Brasília, Silvia Mourão, a quem visitava em companhia de meu pai, o “seu” Mattos e de minha família, na presença da Carmen e da Tereza, deu-me notícias de Darci. Está na Alemanha. Mostrou-me fotos. Narrei-lhes a minha vergonha. Riram do inusitado. Ainda hoje, mesmo “levando” o fato na brincadeira eu ainda me sinto envergonhado.

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