domingo, 16 de maio de 2010

SOLANGE, O BRINCO E O AMBULATORIO DE D. LUIZINHA

Na foto, Solange criança
Por
Jean Kleber Mattos
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Publicado no Blog Ipueiras em 29/03/2006 por Marcondes Rosa de Sousa
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Minha avó, D. Luizinha, tinha mãos de fada. Em casa, era minha “enfermeira” predileta. Tirar um dente mole, sacar um estrepe, sarjar um furúnculo, fazer um curativo era com ela mesma. E tudo com misericórdia. Indolor tanto quanto possível.
O arsenal cirúrgico era simples: agulhas de costura, tesouras, toalhas limpas ou a própria mão bem lavada. A assepsia era feita com álcool, água oxigenada ou sabão “Pavão”. Contudo, seu desinfetante preferido era a Hipoclorina, comprada na farmácia de “seu” Idálio. Vinha em garrafinhas esguias de cor âmbar. Elegante. Hoje o produto está banalizado com o nome de “água sanitária”. Ela costumava “distrair” o paciente contando casos. Uma forma ancestral de anestesia, certamente.
No início dos anos 50, a escola de meu pai (Neném Mattos), funcionava a todo vapor. Numa tarde, eis que uma aluna de nome Solange queixou-se de dor na orelha. Era a filha de “seu” Wencery. Dona Luizinha examinou-lhe a orelha. O lobo estava avermelhado e edematoso no local do brinco. Sinal de infecção. A avó ofereceu-lhe duas alternativas: acompanhá-la até sua casa ou tratá-la ali mesmo na escola.
Incentivada pelas colegas, Solange, mesmo receosa, escolheu a segunda opção. Contando casos, D. Luizinha, com habilidade, retirou o brinco. Vitoriosa, exibiu o troféu à vista da paciente. Ainda se podia ver uma pequena gota vermelha que restara na peça.
Ao ver aquele quadro, Solange desmaiou por breves segundos preocupando a todos. Logo, “voltou”. Na época se dizia “deu uma agonia”. Seguiu-se a assepsia. Para alívio de todos, passado o susto, Solange abriu um belo sorriso. Todos comemoraram e D. Luizinha aproveitou para fazer um “comercial” inusitado:
- Eu sou boa nessas coisas. Já sequei até vestido molhado com o ferro de engomar!...

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